quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Fogos em Portugal 2017

Clique num ponto do mapa para ver imagens de satélite de alta resolução dos fogos ("antes/depois"). Pode partilhá-lo em redes sociais, blogs, etc mantendo as ligações às imagens de satélite: basta clicar no link "partilhar" no canto superior da imagem.
Ou clique nos links abaixo para ver imagens de satélite de alta resolução da região:
Cada imagem do "antes e depois" do fogo tem 1912x935 pixels (10 metros/pixel). Para ver com todo o detalhe pode ser aconselhável fazer download da imagem.

Nota: este post será mantido no topo do blogue, para facilitar a navegação. Novos posts surgirão por baixo deste.


O mistério da área ardida nos fogos de 15 de Outubro de 2017 (3ª parte)

Continuamos a saga iniciada aqui (1ª parte) e aqui (2ª parte) acerca da divulgação, pelas entidades competentes, de informação sobre a área ardida nos fogos de 2017.

Lembramos que era espectável, praticamente desde 15-16 de Outubro de 2017 (utilizando dados de satélite disponíveis no próprio dia por exemplo no site NASA Worldview), que o valor da área ardida em Portugal em 2017 se viesse a situar acima dos 500 mil hectares, sendo assim o mais elevado de sempre.

No entanto, apenas em 2018 o ICNF apresentou no seu site alguma informação que, de forma indirecta, confirma que o valor real efectivamente se situa acima de 500 mil hectares: um ficheiro shapefile ainda provisório, datado de 5 de Janeiro de 2018, que contém dados que apontam para uma área ardida de 508 764 hectares. Note-se que este valor não é mencionado no site do ICNF: é necessário software adequado para aceder a esta informação da shapefile. Mesmo assim, os quase 509 mil hectares referidos deverão ainda pecar por defeito, uma vez que se observam nas imagens de satelite zonas que arderam e que ainda não estão contabilizadas (ver final deste post).

Por outro lado o SGIF, onde o ICNF se baseia para os seus relatórios, indicava a 22 de Dezembro de 2017 uma área de 523 mil hectares para a área ardida, após ter fornecido durante meses várias estimativas de área sempre muito abaixo de 500 mil hectares (não podemos apresentar uma imagem com a estimativa mais recente do SGIF porque aparentemente com a mudança de ano deixou de ser possível aceder aos gráficos de 2017).

O EFFIS europeu disponibilizou ainda em Outubro de 2017 uma estimativa de área ardida de cerca de 564 mil hectares, a qual se revelou mais precisa do que as muitas estimativas feitas pelo SGIF muito depois, em Novembro e Dezembro de 2017. A estimativa do EFFIS deve no entanto sobrevalorizar a área ardida, por incluir algumas povoações inteiras que, obviamente, não arderam na sua totalidade, para além de rios, etc. Teria sido possível, em poucos dias, retirar das áreas ardidas do EFFIS o que não ardeu e disponibilizar atempadamente à comunidade uma estimativa razoavelmente precisa da área ardida (que seria sempre necessário confirmar no terreno). A divulgação em tempo útil de um valor preciso para a área ardida teria evitado muita confusão e, potencialmente, evitado interpretações, avaliações e decisões erradas.


Em resumo, o ponto da situação hoje (1 de Fevereiro de 2018) é o seguinte:

  • o valor da área ardida deve situar-se entre cerca de 509 mil (estimativa da shapefile do ICNF) e 564 mil hectares (estimativa do EFFIS) - a incerteza é ainda muito grande, o que é incompreensível;
  • o relatório do ICNF mais recente ainda é o 10º (até 31 de Outubro de 2017), provisório, com uma estimativa de área ardida de 442.418 hectares, grosseiramente abaixo do valor real. No entanto, é este ainda o valor de referência, referido por inúmeras fontes. O ICNF devia disponibilizar quanto antes no seu site um relatório com os valores correctos da área ardida em 2017.

Observando de forma nada exaustiva a shapefile mais recente disponível no site do ICNF (a de 5 de Janeiro de 2018), observamos na imagem de satélite ainda existem muitas regiões avermelhadas correspondentes a áreas ardidas que ainda não estão incluídas nas regiões delimitadas. Ou seja, a área total ardida em 2017 deverá ser ainda bastante maior do que os 508 764 hectares das regiões delimitadas.

Regiões delimitadas (a cores) sobrepostas à imagem de satélite. Ainda são visíveis zonas avermelhadas na imagem de satélite que não foram contabilizadas como área ardida.   
(idem)



As regiões que tínhamos indicado no post anterior, que claramente indicavam uma subestimação da área ardida, já se encontam quase todas contabilizadas na versão mais recente:

Região delimitada (a amarelo) sobreposta à imagem de satélite. Nesta versão da shapefile a área delimitada cobre melhor a área ardida, apesar de ainda serem visíveis pequenas zonas avermelhadas não contabilizadas. Comparar com esta imagem do post anterior.
(idem. Comparar com esta imagem do post anterior.)
No próximo post veremos alguns exemplos da confusão gerada nos media por causa da área ardida em 2017, contribuindo desnecessariamente para uma percepção errada que tendeu a desvalorizar a dimensão real do problema.